11 de nov. de 2011

ENVELHECER é como estar de porre todos os dias

Não sei quem resolveu lançar a idéia, de que a 3a. Idade é a melhor idade.
Vamos dividir as coisas aqui para ficar claro:

a)    Envelhecer é como estar de porre todos os dias – é acordar com dor de lado, dor no braço, dor na perna, dor nas costas e várias outras dores.
b)   Envelhecer é estar sempre meio tonto – enxergar menos, mastigar menos, dormir menos, ter menos brilho na face, um sorriso amarelo tentando esconder as falhas de dentes ou a arcada dentária já com defeito.
c)    Para envelhecer sem traumas maiores é melhor desde cedo, nos treinarmos na arte de perder – perder a beleza, perder a força física, perder o cheiro do desejo, a força do sexo (que foi outrora propiciada pelos hormônios abundantes); perder o respeito dos outros, perder o “status” financeiro e o poder econômico; perder a capacidade de decisão, ficar sem chão; perder o rumo, o equilíbrio do corpo, perder o amor, a fantasia, a ilusão, a esperança de um amanhã melhor.
d)   Envelhecer é não ter futuro – o amanhã acaba ali, o passado já foi e se torna incorrigível, irrecuperável; – as lembranças boas do passado a gente guarda com carinho, orgulho e até com tola vaidade. Os erros a gente lamenta, se atormenta, se auto-acusa, pois muitas vezes os nossos erros são causa de grandes sofrimentos físicos e espirituais não só hoje e não só nosso, mas também muitos dos nossos erros atingem filhos, netos e até bisnetos.
e)    Mesmo que tenhamos tido grandes feitos no passado, vencido concursos que exigiam inteligência e conhecimentos, ou ganho torneios que exigiam força e habilidades físicas, ou consagrados pela beleza ou pelo carisma, com todas as qualidades imagináveis ou sem qualidade alguma, chegamos à velhice como uma roupa usada, surrada que ninguém quer vestir mais. Nossas vitórias todos esquecem rápido, as derrotas na luta pela vida e fragilidades físicas, defeitos de DNA vão marcando nossos descendentes para sempre.
f)      Quando eu digo que envelhecer é estar de porre todos os dias, quero salientar a diferença entre o porre do velho e o porre do jovem.
g)   O porre do jovem se autocura em um ou dois dias, bastam alguns sonrisais, uns bicarbonatos de sódio, uns xantinons ou similares,  ou uma glicose na veia, pronto, o jovem está novo de novo, pedindo outro desafio. Mas o porre do velho a cada dia se acentua mais, e os remédios só fazem piorar, pois intoxica, acumula, extravasa, não atinge os objetivos. O porre do velho é fragilidade, é mistura demais de medicação, excesso de diuréticos ou cardiotônicos, falta de vitaminas e sais minerais - morte lenta de vários órgãos que se atrofiam ou aumentam de volume na ânsia da natureza de se autocorrigir.
h)   O jovem para ficar de porre precisa tomar uma quantidade razoável de bebidas alcoólicas, cheirar uma cocaína, ou se auto-injetar alguma droga. Mas o velho não, este fica de porre naturalmente, sem beber, sem cheirar, e se beber ou cheirar com certeza a nossa amiga foice vem cortar.

Qualquer outra pessoa pode ver o envelhecer a sua maneira, e não concordar comigo, e eu até gostaria de ser rebatida – criticada, bombardeada, convencida de que envelhecer é natural e portanto é bom - e ai quem sabe eu possa acordar deste estupor, pois é assim que vejo a velhice: como um fim de estrada, batendo de cara num muro cinzento, horizonte vazio,  que não consigo escalar e pular por cima para ver um outro horizonte mais risonho, mais bonito, mais colorido.

Neste meu final de caminho eu me sinto não amada, indesejada, rejeitada, isolada, inválida, imprestável, com meus conhecimentos superados, o meu futuro não existe, e o meu passado é uma piada, tal era a minha capacidade de acreditar, inventar e me reinventar todos os dias, para chegar aqui no NADA.
A vida correu depressa, os meios de comunicação se expandiram, os sistemas eletrônicos passaram por cima dos contatos corpo a corpo, feitos por toques e palavras (conversas ao pé do ouvido, nos salões de bailes ou saraus) - e deram lugar a linguagem virtual, as pessoas deixaram de escrever textos legíveis que podemos entender na língua pátria (português) para fazer uma mistura estúpida de um inglês cheio de erros gramaticais (que mais parece um dialeto) com um português deficiente, graficamente errado, gramaticalmente assassinado, onde as palavras são abreviadas e a comunicação feita por sinais, figuras, pontos, estrelas e caricaturas. Com isto, me sinto alienada, incapaz de entender o linguajar dos jovens, de entrar na deles e participar. E com isto, também, o meu dom maior que era o da COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DE TEXTOS de todo tipo – poéticos, comerciais, técnicos etc – estas minhas qualidades passaram a não ter valor e parecer estranha para a juventude, para meus próprios filhos e netos. Mas para dizer a verdade até eu estou perdendo os rumos da língua pátria, misturando internetês com inglês e português – e ao cometer um erro minha razão me chama a atenção, mas de tanto ver textos cheios de erros, eu começo a não saber onde estaria o certo.

Tudo, hoje, é muito diferente da minha juventude –quando eu era cheia de forças e alegria, solicitada por todos – pelas colegas do colégio para ajudar na lição de casa, para dar cola na hora da prova – pois eu era considerada inteligente – e muito paparicada pelos professores, representava o sucesso de seus métodos de ensino, aprendia o que me ensinavam e ainda ia além.

Tudo tão diferente! Na juventude eu montava a cavalo, corria nos campos, nadava no rio, não tinha medo – colocava o rádio bem alto (pois tv não tinha, nem internet, cinema na cidade era um acontecimento, só para dias especiais) então, minhas noites em casa eram preenchidas apenas por um rádio velho – do qual minha mãe muito se orgulhava, era um dos poucos da cidade – e ao som deste rádio bem alto, pulava e sapateava em cima das mesas de madeira maciça – pois vizinhos eram distantes, portanto, ninguém iria reclamar do barulho.

Andava quilômetros sob sol e chuva para ir ao colégio, dançava até de madrugada e me sentia sempre muito solicitada, convidada por amigos, paqueras, amigas, vizinhos, parentes.

Depois com meu escritório de datilografia, redação e revisão de textos (em casa mesmo) eu via entrar e sair gente o dia todo – e todos dependentes das minhas habilidades, rapidez e perfeição no teclado de máquinas de escrever mecânicas, elétricas e eletrônicas e minha incrível capacidade natural de criar textos.

Hoje me sinto velha – antiga, sem nada que possa ensinar aos jovens, ou trocar idéias com os netos – pois a máquina de escrever que eu tão bem conhecia não tem mais serventia, o computador que é a máquina da hora, eu não domino, sou apenas uma usuária, tentando me equilibrar com mudanças todos os dias, A tecnologia corre adiante veloz, saltitante, enquanto minha capacidade de aprendizado corre para trás.

Nossa, quem ler este meu texto vai imaginar que estou em uma profunda crise depressiva.

Se raciocinar em cima de realidades – vividas pessoalmente e vistas em outras pessoas, for depressão – eu estou deprimida.

Eu não vejo tudo que escrevi como sinal de depressão, mas tão simplesmente uma forma de racionalizar, entender os porquês e até desculpar a vida por ser tão dura com a gente – digo dura porque a vida não perdoa – não poupa – ela corre pelos caminhos normais – nascer, crescer, multiplicar, morrer.

A natureza/viva não se deixa bloquear em seus intentos e na sua naturalidade – veja a flor que se forma em botão, desabrocha e se desfaz ao sabor do vento – toda despetalada – dobrada em si mesma, num sinal de profunda dor. Não adianta novos adubos, mais água, mais sol – proteção contra o vento, cuidados com a chuva – a flor vai nascer, desabrochar e se desmanchar.

Assim é o ser humano – nasce indefeso, cresce cercado de cuidados, se torna adulto agressivo com a vida, com sua própria natureza – belo, forte, saudável – e por mais que se cuide pela moderna medicina,  depois de uma certa idade não adianta TONELADAS DE SAIS MINERAIS, CÁLCIO, VITAMINA D, EXERCÍCIOS DE RESISTÊNCIA.

A involução pode ser retardada, a dor pode ser minimizada – mas seja lenta ou menos dolorosa – a involução – o dobrar sobre si mesmo como faz a flor vai acontecer a todos que se atreverem a ultrapassar os vinte e os intas da juventude e adentrar os entas da maturidade  e CE-SENTA por favor e espera os efeitos naturais e irreversíveis dos 60, 70, 80, e quanto mais ENTA você acumular - mais CE-senta. Você senta porque as pernas não querem mais caminhar, a coluna se permaneceu ereta não quer mais dobrar, se dobrou não quer mais levantar. O cérebro já não lhe aponta os rumos certos, e os centros do equilíbrio corporal já não obedecem a comandos.

Vou parar por aqui, quem sabe, logo, logo, volto para pensar um pouco mais, sobre o destino de tantos velhinhos e velhinhas que estão preenchendo as ruas de São Paulo, lotando os metrôs, atravancando as roletas dos ônibus com seus passes digrátis – e mais – lotando as salas de médicos cardiologistas, reumatologistas e outros especialistas em doença degenerativas.


Pense nisto e me dê um retorno. 


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