27 de out. de 2012

Os Custos do Prolongamento da Vida

Tenho 67 anos e vou entrar definitivamente nos 68 daqui a poucos dias, mas preciso dizer que o prolongamento da vida me preocupa e deveria preocupar a todos, jovens, maduros e velhos.

Eu já disse em outro artigo que deveríamos nos preparar para envelhecer, e como nos preparar para este prolongar da vida? Existe uma maneira de evitarmos os problemas, desconfortos, doenças, e outras mazelas que fazem parte dos dias daqueles que surpreenderam ultrapassando os limites do viver de seus antepassados, ou os limites do que realmente esperavam viver?

Qual a resposta a este questionamento? - Como nos preparar para o prolongamento da vida? Trocando em miúdos e sendo mais diretos - COMO NOS PREPARAR PARA A VELHICE? PARA OS SEUS EVENTOS E CONTRATEMPOS?

Vejo por todos os lados na internet e até na TV os aplausos a 3a. idade como se ao adentrar os 60, 70 chegássemos ao paraíso terreno, sem compromissos com o trabalho (aposentados), sem dívidas, sem custos de viver, sem preocupações com moradia, alimentação, vestimentas - parece que a 3a. idade é uma flutuação do corpo e do espírito acima das misérias humanas. Assim vêem  a velhice as pessoas que ainda não chegaram até ela, imaginam que envelhecer é o descompromisso com responsabilidade e a idade do LAZER perene.

Do meu ponto de vista de velhinha hipocondríaca, a velhice é o último estágio da vida, e se chegamos até aqui, passamos a olhar o passado como um sonho ou pesadelo (depende de como se viveu) e o presente é um momento de incertezas, de faltas (falta tudo, falta alegria, falta juventude, falta beleza, vigor, força, falta amigos, falta inimigos, falta esperança, falta sonhos, falta estabilidade financeira, falta saúde).

Na juventude, nos nossos momentos difíceis, temos a esperança do futuro.Podemos mesmo quando não vemos saídas no final do túnel acreditar que algo melhor vai nos acontecer (um fato, uma oportunidade, um desafio)  e que podemos conseguir vencer com nossa força, com nosso trabalho. Somos jovens e podemos sonhar, pois para o jovem o futuro é uma realidade na qual ele acredita para se levantar dos tombos que a vida lhe dá. E muitos conseguem pular por cima e vencer, crescer, criar, recriar a vida e chegar lá adiante com o sabor da vitória, e se a vitória foi a custa de muita dor e trabalho,  mesmo assim  ele ainda continua tendo UM OLHAR PARA O FUTURO, pois as dores e as decepções são todas embaçadas pelo olhar que se fixa no FUTURO que acredita e espera mudanças sociais e econômicas.

Mas na velhice tudo se complica, as doenças num primeiro momento são amenizadas para logo a seguir se complicarem com outras. As finanças nem sempre é a ideal,  a menos que você tenha feito um bom pé de meia, investido em coisas duráveis como imóveis, ouro, ou plantado um negócio que após sua aposentadoria este negócio  continue dando lucros e caminhando administrado pelos jovens de sua família ou outros tão capacitados e confiáveis que lhe dão aquela estabilidade, isto acontece na indústria e nos grandes empreendimentos,  mas, a maioria dos velhos chega à tão propalada 3a. idade (idade da felicidade) perdendo logo de cara 70 e até 90% da renda que tinha antes, porque ele pára de trabalhar e se ganhava 20 salários mínimos irá ganhar a méreca que o sistema previdenciário estiver disposto a lhe pagar através dos cálculos de suas contribuições. Digo isto porque de fato a maioria NUNCA contribui com  o teto e sim fica a meio termo, mesmo aquele que tem salários altos e depois na aposentadoria se arrepende, mas é tarde. Outros, os seus salários são tão altos que ultrapassam o teto de recolhimento permitido pela previdência social e quando se aposentam não tem mais aquele alto salário, e recebem da previdência aquém das suas necessidades - pois ao longo da vida acostumaram-se a um nível de vida elevado e sem pensar no amanhã não pouparam, gastando tudo que foi ganhando em farras, vida de ostentação e luxo, viagens, etc. É UM PROBLEMA, mais um problema - para pessoas que tiveram UMA VIDA DE SONHOS,  OSTENTAÇÃO e VAIDADES. Acontece também com pessoas que passaram pela vida sem precisar pensar em GANHAR e só souberam GASTAR. Um dia pessoas assim chegam ao fundo do poço e já velhos não dá para começar o plantio de um futuro.

Entretanto a grande massa de pessoas que chega hoje a tal MELHOR IDADE, 3a Idade - chega recebendo minguados salários mínimos se contribuintes e parcos trocados se recebe o tão falado auxílio velhice.

Ah! mas eu tenho uma PREVIDÊNCIA PRIVADA onde contribuo com um valor razoável que ao envelhecer por 10 anos receberei o suficiente para uma sobrevivência digna! Estou ouvindo alguém dizendo isto em voz baixa enquanto lê este meu triste relato.

Bom, eu que já vivi o bastante e trabalhei na Previdência Social tenho meu pé atrás com tais previdências porque na minha época, 40 anos atrás,  vi tanta gente recolher aos Clubes de Pensão, acreditando numa velhice tranquila e sem  mais nem menos estes CLUBES DE PENSÃO - FALIRAM - DESAPARECERAM e deixaram os contribuintes com os papéis na mão. Hoje a maioria das Previdências hoje são geridas por bancos e todos os dias fica-se sabendo de bancos FALINDO, deixando seus correntistas na mão, e o que acontecerá aos PLANOS DE PENSÃO geridos por estas instituições financeiras que ao longo da estória poderão falir? O QUE ACONTECERÁ com ele, com o poupador? O governo diz que garante quem contribui com os planos de pensão, tudo dentro de um  limite - e ai, será que se houver uma derrocada geral como houve com os Clubes de Pensão, o governo vai garantir para TODOS? E última pergunta: quanto mesmo o governo garante de fundos destes planos de previdência privada?

Então se o velho não aplicou na juventude em bens duráveis que lhe renda lucros, aluguéis, ou bens que possam ao longo do tempo ir sendo vendidos para lhe complementar a renda, mas estes bens tem que ter ESTABILIDADE DE VALOR - não perder o valor seja qual for a moeda - porque moeda não é valor, a moeda é apenas a medida do VALOR - bom se o velho não tiver tido esta luz na juventude, ao envelhecer não tem mais como correr atrás - e ai ele cai nos contos dos EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS que lhe provêem hoje os custos de viver para lhe tirar 30% amanhã de sua parca renda - da sua mísera renda.

Então a solução para um dos problemas da velhice - RENDA - está ai para ser discutida e pensada - não quero dizer que eu encontrei a medida certa, o correto que eu por certo não fiz  - mas o caminho ainda é prever, poupar, investir em bens de valor estável. 
O ideal é uma cesta de investimentos bem planejados - investir nos planos de pensão com parcimônia, porque também eles não irão lhe cobrir o resto da vida se você viver 100 anos - porque estes planos sabiamente colocam nas suas letrinhas ilegíveis os limites de valor que lhe serão pagos mas também  o limite do tempo de pagamento se você optar por receber renda mensal e não sacar o montante de imediato ao final das contribuições. Eu não tenho investigado este assunto e posso estar falando bobagem, mas pelo que sei dos planos antigos eram assim, porque eu sou uma daquelas que NÃO POUPOU, NÃO INVESTIU, NÃO PREVIU.
Para fazer esta cesta é bom investir um pouco em bem imóveis, outro tanto em poupança financeira, e jóias ou ouro puro em barras. Ouro este que não deve ficar nas mãos de quem lhe vendeu e sim recebido e guardado de forma segura - onde? Cada um sabe onde melhor guardar. Mas não nas mãos do vendedor. Eu penso assim e posso estar errada - ouro em papel é pó que o vento leva, que a terra come, que a água dissolve e o fogo queima.


Agora vamos pensar e analisar o SEGUNDO problema da Velhice - SAÚDE


Na juventude tudo podemos - tomar gelados, correr na enxurrada, passar noites sem dormir, fumar, beber, trabalhar exaustivamente, brigar, amar. Somos um navio em alto mar, cheio de velas que vencem ondas, que  se deixam levar pelo vento e que ao mesmo tempo domina o vento com sua força de guerreiro no mar.

Na juventude a força, a beleza, a coragem fazem parte de nossos dias e sem medo de nada - corremos, saltamos, trabalhamos e esquecemos de prever UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL através da alimentação, dos exercícios controlados e comedidos (exercício precisamos nos exercitar, mas o exercício excessivo sem controle, exigindo além do que nosso corpo suporta MATA e se não mata deixa sequelas que na velhice serão problemas que agravam as artroses naturais e músculos excessivos só servem para cair e relaxar mais na velhice trazendo os problemas de mobilidade, força e falta de equilíbrio próprio do envelhecer).

Trabalho: na juventude nos dedicamos ao trabalho e muita gente esquece de viver (exemplo SOU EU, NÃO VIVI, NÃO AMEI, NÃO FUI FELIZ, SÓ TRABALHEI), quem enfrenta jornadas duplas ou triplas de trabalho por anos a fio, chega a velhice cheio de problemas de saúde, problemas emocionais e conflitos familiares, esqueceu de tecer uma base sólida de relacionamentos emocionais com a família, formar uma redes de amigos que lhe dê suporte na velhice, para dividir dores e desconfortos - este é o preço final da conta a pagar por quem trabalhou demais e esqueceu de também VIVER.

Então para solucionar mais um problema da velhice - precisamos desde cedo cuidar da saúde - se temos que envelhecer - viver mais que nossos antepassados precisamos chegar a esta velhice com capacidade física para nos mantermos INDEPENDENTES FÍSICA, EMOCIONAL e FINANCEIRAMENTE  - e para tanto, os cuidados de evitar os EXCESSOS da juventude como bebida, fumo, drogas é essencial (aqui outro exemplo sou eu, não bebi e nem usei drogas, mas FUMEI e trabalhei demais (sentada), hoje pago o preço com um DPOC e incapacidade física).

Entretanto, por mais prevenção da saúde, por mais poupança e aplicação de reservas financeiras em  bens duráveis - ao chegar à velhice podemos nos deparar com situações que NÃO GOSTARÍAMOS e se nos fosse dado escolher -seria preferível viver menos e enquanto temos lucidez e independência física para nossos auto-cuidados do que viver muito como um trapo que necessita de cuidadores e ou das tão propaladas casas de repouso para velhinhos que nada mais são que um SUGA DINHEIRO DA FAMÍLIA e enterram vivos aqueles que ali estão.

Eu digo enterram vivos porque para o velhinho ginástica, Pilates, RPG,  joguinhos, cineminha, crechinha, viagenzinha, palestrinha, rezinha, dancinha,  comidinha e outras coisinhas que inventam nestas casas de saúde (chamadas clínicas de repouso e outros nomes), podem durante algum tempo lhe embotar os sentidos e ele (o velho) até parecer ou se sentir de fato feliz - mas chega aquela hora da noite, aquela hora do dia que o que o velho quer mesmo é a proximidade dos filhos, dos netos, dos amigos, o aconchego de sua casa, aquela casa onde ele era capaz de andar no escuro, de pegar seus próprios remédios de tomar o seu banho (bem tomado ou mal tomado, mas ele mesmo) e ai, não adianta um batalhão de enfermeiras, cuidados especiais e lazer, o carinho da família não tem substituto.
Por outro lado, chega uma hora em que a família não vê outra saída a não ser levar o velhinho para um asilo ou casa de repouso (asilo é para pobres ou velhos de baixa renda e casa de repouso - clínica é para ricos) no fim muda de nome e os níveis de conforto são diferentes mas no final tudo dá na mesma é - O CONFINAMENTO DO VELHO - ser enterrado vivo e esperar a morte, viver ali sem carinho, sem amor, sem esperança, sem objetivos, o pior é não ter objetivos, completamente incapaz de mudar seu destino, pois não pode tomar decisões, não tem saúde, não tem bens sob sua administração e então quando se perde a visão do futuro é melhor não se ter este presente doloroso, angustiante, porque muita gente acha que o velho é esclerosado e não pensa, mas o velho pensa, sente, ama, deseja.
A família tem que tentar de todas as formas manter o velho no aconchego do seu lar, na sua casa,  com objetivos e trabalhando enquanto der, mesmo que o trabalho do velho não renda de fato lucros, mas só de se manter ocupado evita-se um monte de outras incapacidades e sofrimentos para o velho. Porque o velho confinado SOFRE, ele sofre calado, ele chora calado no canto e na alma, seus olhos contam. O velho que se mantém em atividade, se auto-engana, fica feliz com o que produz, sente-se útil e alguns se acreditam até independentes.

Chegando o  ponto em que o velho está caduco (hoje dão nome estiloso de Alzheimero) e sem forças musculares (hoje esclerose senil) - e deformidades ósseas nomeadas como osteomalácia ou osteosporose - e que além de perder as forças e a cognição, o velho também perde a visão e a capacidade de se autoalimentar, autocuidar,  neste momento da vida do velho a família não tem outra alternativa ou leva para um asilo ou contrata duas cuidadoras ou mais pois a lei exige que a cuidadora tenha o dobro de descanso das horas trabalhadas.

E neste momento a famosa poupança ou investimentos estáveis dos quais falamos acima pouco adianta porque o velho não consegue usufruir, nem tão pouco gerir tais finanças ou bens que muitas vezes caem nas mãos de pessoas inescrupulosas quando o velho não tem filhos ou quando os têm mas estes não são  conscientes de suas responsabilidades para com seus velhos e nem tem amor e respeito pelos mesmos e os entregam a terceiros para que cuidem tanto física como financeiramente.

MAS E QUANDO O VELHO NÃO TEM RECURSOS PRÓPRIOS - O QUE ACONTECE?

Acontece que ele passa a ser UM PESO para família e os custos da continuidade de vida de um velho são maiores que a educação de uma criança. Os filhos acabam penalizados por um velho que continua vivendo. Não querem que morra, mas os custos às vezes são superiores aos sacrifícios que podem fazer. Isto porque também o MERCADO CRIOU A INDÚSTRIA DE PRODUTOS E SERVIÇOS (CARÍSSIMOS) PARA ATENDER A DEMANDA DE TANTOS VELHOS NO MERCADO.

Dentro da comparação que fiz acima - vejamos:
Um plano de saúde de um velho hoje custa equivalente a mensalidade das melhores FACULDADES DO BRASIL e dependendo do plano o custo é maior que O CUSTO DAS MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO.

Remédio - velho não bebe remédio - COME REMÉDIO e todo dia é mais remédio - remédio para o osso, remédio para o fígado, remédio para a pressão, remédio para o coração, para a cabeça, e assim por diante. O governo dá? Sim dá.. o genérico - mas tem pessoas tipo EU (que não podem tomar AAS, que não podem tomar antiinflamatórios) e Vitamina D hoje tão falada e que serve para tudo o governo dá os comprimidos de cálcio com vit D 400 unidades, quando se sabe que a vit D só tem efeito medicamentoso e regenerador de osso a partir de 2.000 unidades - e ai o velhinho fica na fila todo mês para pegar um remédio ENGANAÇÃO para seus ossos, acreditando que está sendo tratado de sua osteosporose, as suas perdas ósseas só vão aumentando - melhor se deitar no asfalto e tomar sol duas horas todo dia. Ai vem outro problema - na idade avançada o velho não tem gordura subcutânea que metabolize vitamina D e assim possa ser enviada ao figado para ser trabalhada para uso pela Paratiróide,  então o velho tem que tomar vitamina D mesmo. Mandar manipular? Caro, muito caro, porque a indústria de MANIPULAÇÃO FARMACÊUTICA É OUTRA INDUSTRIA que em nome de um atendimento personalizado arranca o couro de seus clientes.

E quem  paga esta conta toda? PLANOS DE SAÚDE, REMÉDIOS E MAIS REMÉDIOS, CUIDADORES, ENFERMEIROS, ASILOS, CASAS DE REPOUSO? QUEM PAGA? os filhos.. está é uma realidade dura mas real. Os filhos pagam a conta - porque a Previdência Social (para a qual todos são obrigados a contribuir por 30 a 40 anos de sua vida), ela na hora da morte dá um tratamento de emergência em salas comunitárias com 20 ou mais pacientes tratados sem privacidade, desnundando suas vergonhas (suas partes íntimas) na frente de outros homens e mulheres, tudo misturado, como vi num hospital.

A vida no Paraíso da Velhice tem um alto preço - acaba com as reservas do velho - esvazia as poupanças da família, quando não leva a família inteira a derrocada. Se o velho vive muito vai deixando marcas de dor nos filhos e netos, quando deveria deixar marcas de alegria e amor - mas quando se sofre a dor da velhice, muitas vezes não conseguimos mais transmitir o afeto e o carinho que temos pelos nossos filhos - porque nada é MAIS IRRITANTE e nada TRANSFORMA o ser humano num ser intragável como a DOR. E ser velho é ter dor todo dia, dor no braço, dor na perna, dor na cabeça, dor nas costa. Vale a pena VIVER MAIS TEMPO DO QUE AQUELE QUE NOSSO CORPO FOI PROGRAMADO? Quero dizer - vale a pena prolongar a vida de forma artificial através de remédios e descobertas que não curam e somente arrastam o ser por uma vida que ele não tem prazer de viver?

bom.. vou parar por aqui, que como velhinha estou cansada de escrever - quem sabe amanhã me animo e escrevo mais.

hoje, 27 de outubro de 2012 - 15:45 minutos


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