Meu nome é Regina Celia, tenho 66 anos, 5 filhos, 6 netos, e se Deus me permitir viver mais alguns meses terei brevemente mais um neto e um bis-neto.
De cima dos meus 66 anos, olho para trás e vejo uma vida cheia de altos e baixos - muita luta, busca da realização de sonhos, tais como cultura e estabilidade financeira. Muito garra, gerando resultados e também fracassos.
Olho o meu passado e me vejo ainda jovem, menina quase, cerrando os punhos para a vida, montando a cavalo e desafiando preconceitos, costumes sociais, pois fiz parte da geração 60, quando as mulheres se levantaram da inércia de ser só esposas e mães e foram para a luta participar do crescimento da familia e do próprio pais.
Engraçado, que vejo este assunto com uma reserva, pois eu não participei de nenhum levante, não fazia parte de nenhum grupo de mulheres, e o acesso a informação era restrita a ouvir o velho rádio e ler algumas páginas de jornais que já chegavam ultrapassadas às minhas mãos.
Mas mesmo assim, alheia do que acontecia nas cidades grandes, também me levantei da condição de ser mais uma mocinha do campo para correr atrás de sonhos na aquisição de cultura, melhores condições de vida, e também do sucesso... sonhos.. sonhos.. sonhos.. que ficaram lá atrás os quais muito pouco foi realizado e se gerou alguma satisfação pessoal, trouxe consigo também muita dor física e emocional e uma certa desorganização afetiva dentro da familia. Filhos que hoje reclamam não terem recebido amor na dose que desejavam, ex-marido que foi embora porque queria uma esposa (nos moldes de 1950) e não uma companheira que junto com ele buscava o crescimento físico e psico-social dos filhos.
Nasci pobre, cresci pobre e batalhei muito para atingir meus objetivos. Fiz sabão para vender de porta em porta, numa cidade pequena de Minas Gerais. Depois mais tarde lavei e enxuguei carros num posto de gasolina em Franca - SP, antes tentei trabalho em fábricas de calçado e não deu certo, sempre muito avessa a horários rígidos e disciplinas espartanas. Do posto de gasolina sai para ir trabalhar no Fórum, no Cartório Eleitoral, como funcionária de um dos candidatos a Prefeitura naquele ano.
Para estudar, caminhei quilômetros sob o sol e chuva, para ir até o colégio das freiras na cidade de Santa Rita de Cássia, MG. Estudei neste colégio com bolsa de estudos ganha com muito atrevimento através de uma carta que enviei ao então Presidente da República JK. Foram 2 anos de espera para a aprovação da dita bolsa. O colégio eu tinha, mas precisava de livros e roupas para estudar num ambiente em que só meninas ricas frequentavam, então comecei a vender sabão para o colégio para pagar minhas roupas e depois passei a prestar serviços de datilografia do jornalzinho da escola e dos planejamentos de aulas. Pois eu era pra frente, na frente de tudo, naquela época datilografar era algo assim excitante, e por ser tão excitante, escondida na casa de meu tio, aprendi a datilografar com todos os dedos e esta foi, verão adiante a minha grande arma para ganhar o sustento da minha vida e dos meus filhos.
Fui atrevida na mocidade, desafiava meus pais, desafiava os amigos, olhava demais para cima e por viver com a cabeça no alto, sonhando com a lua e as estrelas, muitas vezes acabava tropeçando no chão, pois não percebi os obstáculos e nem os degraus que deveria obedecer.
Em 1963, meu pai vendeu nossa pequena indústria de curtição de couros e fomos morar em Franca SP, onde desenvolvi as atividades acima citada de datilografa em fábricas de calçado, lavadora de carros e secretária do pretenso prefeito (que de fato foi prefeito por muitos mandatos, um tal de Hélio Palermo).
Mas, então, logo a seguir, me casei. Casei cedo, aos 19 anos, exatamente quando tentava iniciar meus estudos no Científico que antigamente era o curso médio direcionado para quem queria seguir cursos tais como medicina ou engenharia. Mas, quem anda na chuva se molha, inventei de namorar, e meus pais mineiros rígidos - namorou tem que casar e assim foi feito.
Depois de casada, moramos em Curitiba PR, onde de fazer nada até ser empregada doméstica, vendedora de trambiques na rua, fiz quase de tudo. Um ano depois voltamos para Franca, e eu estava grávida da minha primeira filha.
Em Franca, vendi salgados e pão de queijo na rua para pagar curso colegial já que devido ao abandono para casar eu perdi a bolsa que tinha ganho para fazer o Científico. Além de pão de queijo, vendi roupas, cosméticos (pintei e bordei) como dizem os mineiros para alcançar meus objetivos.
De Franca fomos para Rezende RJ, de Rezende voltamos a Franca, de Franca fomos para Barretos, de Barretos voltamos a Franca, de Franca nos mudamos para São Paulo, onde compramos uma casa no sistema BNH e páramos ali, para criar os cinco filhos que foram nascendo ao longos destas andanças.
Mas nestes anos não só fiquei gerando filhos, terminei o meu colegial, fiz concursos públicos e ingressei no antigo INPS (previdência social) onde trabalhei exatamente 8 anos, quando pedi demissão, pois eu já disse atrás sou avessa a disciplinas, horários, obediências e imposições.
Tudo que estou escrevendo aqui tem sua justificativa para os fins que se propõe este blog.
Este
blog foi criado com finalidades tais como - gerar oportunidades de
desabafo, possibilitar reflexões sobre vida e saúde, levar a um
auto-conhecimento, buscar a troca de informações com outras pessoas e
deixar que elas aqui não só comentem mas também coloquem nos comentários
os seus próprios problemas.
Pra quem escrever então em
um blog? Não poderia fazer estas reflexões no silêncio do meu quarto,
ou na solidão de minha sala, tão cheia de nada, tão vazia de ninguém?
Pois
é, pois é, imitando o velho mineiro, pois é, não sei conversar comigo
mesma. Preciso ter a ilusão de que alguém vai ler o que estou escrevendo
ou que alguém está ouvindo o que estou falando. Preciso acreditar que a
qualquer hora serei interrompida por um comentário elogioso, ou quem
sabe por uma crítica ardilosa, que me ferirá até as profundezas do meu
ser. Tanto o elogio quanto a crítica atinge o ser humano no mais
profundo de seu inconsciente, onde o seu super-ego guarda todas as
vaidades e mesquinharias que adquiriu ao longo de sua formação.
Então,
é isto ai, estou escrevendo neste blog porque preciso acreditar que
estou me relacionando, trocando idéia, contando estórias reais,
verdadeiras, e até inventadas um pouco, mas que tem alguém que está me
ouvindo, ou alguém que me lerá num futuro próximo ou longínquo.
MAS CONTINUEMOS A CONTAR ENTÃO QUEM SOU
De
1969 a 1977, eu com meu emprego público no INPS, e meu marido
trabalhando para Furnas na construção de hidro-elétricas, conseguimos
sair da linha de semi pobreza, para uma condição melhor de vida.
Compramos
nossa primeira geladeira, nossa primeira máquina de lavar roupas, tv, e
deixamos de morar em quartinhos de fundos das casas dos outros em
Franca, para morar em uma casa de frente, com alpendre e quintal, embora
alugada. Grande crescimento (chic no último), mas logo logo, compramos
também um fusca, que para quem nada tinha até pouco antes, o fusca era
sucesso, e em 1973 chegando a São Paulo, onde meu marido veio trabalhar
na construção civil e a empresa que o empregou tinha o metrô como obra
principal, pudemos então comprar a prestação nossa casinha - que eu digo
que não tinha nada, era só paredes, portas e janelas arrebentadas, piso
detonado, pois compramos uma casa que tinha sido abandonada pelos
antigos compradores que não conseguiram pagar. Mas, compramos, e foi um
grande passo, pois ao longo dos anos, transformamos aquela casa em um
lar onde nossos filhos cresceram sentindo-se donos do mundo.
Em
1971 nasceu nosso 4o. filho e em 1975 nossa 5a. e última filha, época
em que deixamos de seguir na linha de crescimento para dar uma parada e
depois começar a caminhar para trás na evolução de estabilidade
financeira.
Neste período de 1970 a 1978, fui como um vendaval -
fiz jornada dupla ou tripla. Trabalhava no INPS, 8 horas diárias, fazia
faculdade a noite, estudava inglês aos sábados, depois em um determinado
período trabalhava no INPS, fazia faculdade, estudava inglês, dava aula
de inglês e fazia serviços de datilografia em casa para complementar o
ordenado. Isto exauriu minhas forças físicas, pois além de trabalhar
demais, fumava demais, dormia pouco, brigava muito com o marido.
O
ano de 1977 foi ruim, morreu o pai de minha prima Leilane, melhor
amiga, e pagem de meus filhos e ela precisou ir embora cuidar dos irmãos
órfãos. Meses depois morreu meu pai, e logo depois minha mãe. Entrei
num estado de confusão emocional, dificuldades para conciliar meu
trabalho fora, com meus deveres de mãe e então, acabei me demitindo do
INPS, abandonei a faculdade e passando a ficar em casa para cuidar dos
filhos e prestar serviços de DATILOGRAFIA PARA PESSOAS FÍSICAS,
ESTUDANTES E EMPRESAS.
Então, é aqui que volto a
afirmar o quanto foi importante para mim, aos 9 anos ter aprendido
datilografia escondida no escritório de meu tio. Esta habilidade me deu a
oportunidade de continuar um trabalho autônomo e sustentar por mais 20
anos os meus filhos até eles se tornarem adultos e auto-suficientes.
A
partir da morte de meus pais, minha demissão do INPS, minha saúde
começou a declinar, e é a partir daqui que vou alinhavar a minha estória
de vida com os problemas de saúde que hoje enfrento e que leva algumas
pessoas a me apontar como Hipocondríaca, e outros acham que tenho doença
rara.
Será isto verdade? Doença rara? Ou será que não
fui eu mesma que detonei a minha saúde, fumando demais, trabalhando
demais, brigando demais, dormindo pouco, comendo mal e fora de hora,
tendo raiva demais, ambição desmedida? Será que não fui eu, que deixei
de ter para comigo os cuidados mínimos com o corpo e a saúde, deixando
de cuidar dos dentes na hora necessária, reservar um tempo para o lazer,
e um outro tempo para o descanso? Será que não fui eu que joguei meu
corpo e minha alma em pontas de facas, que deixaram as marcas que hoje,
quem não participou de minha vida, não sabem de onde vem estas
cicatrizes?
Eu digo isto, porque a partir de 1978 após
ter me demitido do INPS, passei a trabalhar em casa, mas num rítmo
alucinado, de 15 a 18 horas por dia, de domingo a domingo, sem feriados
ou dias santos, fumando sem parar, comendo mal, dormindo mal, até cair
um dia em 1983 com mal súbito que me levou para o Incor onde fiz um
Cateterismo que teve efeitos colaterais que vem me arrastando através
de vários diagnóssticos errados até o momento de agora. Não sei e
ninguém sabe, se foram diagnósticos errados ou quem sabe um simples
evoluir de um mal não diagnosticado.
Em 1983 eu tinha
38 anos, e após o cateterismo entrei em estado de descoagulação - baixa
dos mecanismos de coagulação e se numa pessoa normal após tomar um
anticoagulante, passado uma semana a coagulação retorna ao normal, eu,
anos depois do cateterismo continuava descoagulada. Então, foi dado um
diagnostico de Síndrome de Von Willebrand LEVE.
Após o cateterismo e o tal diagnóstico de Von Willebrand passei um
período de cerca de 2 ou 3 anos, com hematúria, e outros sintomas, mas
para dizer a verdade me acomodei neste diagnóstico e não procurei
averiguar se era ou não verdade. Afinal de contas o diagnóstico era da
Dra. Terezinha Verrastro, considerada, na época e ainda hoje, autoridade
no assunto.
Logo a seguir, separei de meu marido, e
passei a enfrentar jornadas de trabalho, tendo em vista sustentar uma
família, composta por 5 filhos, 1 empregada e 2 cachorros.
Desenvolvi
técnicas de recolocação profissional através da elaboração de
currículos marketing pessoal e passei a atender aquela massa de
desempregados, durante os anos de 1984 até 1995, passando pelo plano
Cruzado e Plano Collor. Submetida assim a um estresse muito grande, pois
pessoas desempregadas são deprimidas, ansiosas, pois todas estão
desequilíbrio financeiro e emocional e isto atinge diretamente a pessoa
que acompanha.
No período de 1984 a 1995 também
trabalhei com datilografia e formatação de teses e monografias para
estudantes de diversas faculdades da cidade de São Paulo. Em 1990 passei
a trabalhar para Garavelo consórcios e também para Sul América Seguros
Saúde. Tinha uma jornada dupla e tripla de trabalho - filhos, trabalho e
esqueci da saúde e do lazer. Esqueci de cuidar do meu corpo e do meu
espírito. Fui perdendo os dentes e deixando as coisas acontecer.
Estou
contando tudo isto aqui para minha própria auto-análise e me inteirar
dos crimes que cometi contra a minha própria pessoa, mas também contra
os meus filhos.
Em nome do trabalho e da necessidade de
manter uma casa, deixei de dar a assistência moral e espiritual que
meus filhos precisavam. Deixei de procurar saber dos problemas da
adolescência dos meus filhos e participar mais de perto dos sonhos deles
e das dificuldades que encontravam para atingir os seus objetivos.
Tudo
isto, excesso de trabalho, desleixo com a saúde, e deixar para segundo
plano os relacionamentos afetivos podem ser a causa que leva uma pessoa
de repente apresentar muitos sintomas inespecíficos de doenças
confundindo médicos e pessoas amigas.
Em 1995 comecei a
me sentir muito doente. Diarréias, dores abdominas, suores, hematúrias,
boca seca, nariz seco, alergias, emagrecimentos. Perdi 25 kg, de 65 kg,
cheguei aos 40 kg.
Fui internada muitas vezes e
diagnosticado um úlcera de duodeno, gastrite errosiva, esofagite,
diverticulite e má absorção intestinal. O problema de coagulação
continuou o diagnostico de Von Willebrand, não porque todos os exames
fechassem o diagnóstico, mas porque eu continuava tendo uma
hipocoagulação, mas sem diagnóstico concreto. Depois de passar por
diversos hospitais, muitas internações e muito sofrimento, cheirando mal
e cheia de escoriações, en 1999 fui internada no Hospital das Clinicas,
onde fui tratada de gastrite, osteopenia, alergia, e iniciei uma
reposição hormonal para a menopausa.
Levantei desta e ao longo de 5 a 6 anos ganhei 30 kg no peso.
De
1995 a 1999 perdi tudo que eu construí durante a vida. Minha pequena
empresa de serviços secretariais e elaboração de currículos faliu,
deixando-me até hoje na mão, pois não vou conseguir uma aposentadoria.
Vendi minha casa e dividi o dinheiro com filhos. Levantei-me de quase 5
anos de perambulação por médicos e hospitais e me vi sem nada. Sem bens
materiais, sem dinheiro, e muita fraqueza física e emocional.
Iniciei
então a atividade de envio de Telemensagens - aprendi sozinha o manejo
do computador e posteriormente com a ajuda de amigos da internet como a
Sarah de Brito que morava na Itália e o Pablo que morava em Campo Limpo
Paulista, aprendi a dar manutenção aos sites que eles me ajudaram a
criar, tais como www.regina.celia.nom.br (fora do ar),
www.telemensagem.online.nom.br (vendido), www.cestas.flores.nom.br
(vendido), www.telemensagemfonada.com.br (ativo).
Com
este trabalho passei a me enganar - a enganar minha solidão, a
enganar-me, dizendo pra mim mesma que tinha recuperado totalmente a
minha saúde. Trabalhei muito, criei um monstro de um site, o
telemensagem online que ainda é o maior site de telemensagem da
internet.
Neste período, morei 6 anos em Campo Limpo
Paulista, 2 anos com uma filha, e depois um ano em Jundiai, 2 ano em
Taboão da Serra, e agora, estou de volta morando no apto de uma filha.
Em
2006 comecei outra vez a ter problemas, dermatite, icterícia, fezes
esbranquiçadas, ou senao negras, sangramentos urinários e HIPERTENSÃO.
Mas tudo isto era jogado pra cima do meu problema de coagulação - todo
médico que eu procurava nao conseguia ver outra doença do que a
COAGULOPATIA - e meus exames continuavam a acusar uma hipocoagulação.
Em
2008, o Dr. Elbio D!Amico (hematologista do HC) me deu o diagnóstico -
VOCÊ NAO TEM VON WILLEBRAND e se teve uma coagulopatia sarou
espontaneamente). Fiquei atonita. Não acreditei. Ai ele suspendeu de vez
a minha reposilção hormonal, dizendo que eu poderia ter uma trombose.
A
partir de então as coisas tem se enrolado. Minha hipocoagulação virou
HIPERCOAGULAÇÃO.. minha hipotensão de antigamente, virou HIPERTENSÃO, e
todos os meus problemas de alergia, dermatites, e gastrites voltaram.
Então fui diagnósticada com um CÂNCER DE TIREÓIDE e fiz uma
tireodectomia total - que em suma na biopsia final do pós-cirurgia da
tireoide, foi constantado que eu não tinha cancer de tiróide e ai eu me
sinto - frustrada, não porque eu gostaria de ter uma câncer, mas sim
porque perdi uma glândula muito importante para a presservação da minha
saúde óssea, cardíaca e muscular - e agora não tem jeito de reimplantar a
tireóide. Erros médicos? Gente, quanto a medicina tem errado comigo?
É por isto que dei este título ao meu blog - A HIPOCONDRÍACA.
Agora,
estou ai a voltas com uma possível CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA? Será? O Dr.
Eduardo Cançado, Gastroenterologista e Hepatologista do Hospital das
Clínicas diz que - tenho todos os sintomas - xerostomia, problemas
alimentares, e outros sintomas, e exames positivos apra
Anti-Mitocondrias que em 95% dos casos é um dado que aponta para Cirrose
Biliar, mas que ele não tem certeza que este seria meu diagnóstico.
Então,
agora, novamente, perdi tudo que construi de 2000 a 2009 - voltei a
estaca zero. Passei mais de um ano sem conseguir desenvolver um trabalho
que me autosustentasse. Vivo hoje às expensas dos meus filhos - lógico
que meu trabalho na internet ajuda um pouco, mas eu gasto demais. MUITA
INVENÇÃO DE DOENÇA... ONDE SERÁ QUE ESTÁ MINHA VERDADE?
Vou
continuar escrevendo este blog.. onde entre uma crônica e outra
pretendo ir contanto as minhas dúvidas, e colocando as minhas
esperanças.