17 de fev. de 2011

Os aspectos econômicos do Envelhecer

Engraçado, a gente precisa chegar aqui, na envelhecência, para olhar para trás e perceber que deveríamos ter nos planejado para este momento. É um momento crucial - um final de estrada cheio de tropeços, muitos gastos e poucas forças para alavancar novos rendimentos e acaba-se ou morrendo-se por falta de assistência médica e alimentação adequada, ou se tornando um peso aos familiares.

Não existe nada pior do que ser um velho dependente - é como quase a voltar a ser criança ou adolescente, tendo que justificar para os outros os por quês de nossas necessidades, portanto, passamos muitas vezes a renunciar aos nossos gostos pessoais para apenas receber aquilo que os outros querem nos dar. E para piorar a situação, nem sempre ficamos felizes com o que nos dão, pois temos outras expectativas.

E a quanto o velho tem que renunciar? Você já parou para pensar, no quanto precisará renunciar na velhice, em lazer, prazer, convivência, alimentos de que gosta? A velhice é uma renúncia constante e um aprendizado na aceitação de perdas: perda do poder aquisitivo, perda da força física, da beleza, do desejo sexual (às vezes o desejo até continua, mas falta a capacidade, o poder de realizar e muitas vezes falta o objeto do desejo).

Perda do prazer de comer. O velho por mais saudável que seja, não consegue comer como quando jovem. Os dentes já não são tão fortes, quando os tem, e as próteses impossibilita totalmente a mastigação natural e a degustação prazerosa dos alimentos. Alimentos mal mastigados, levam a gastrites, má absorção de alimentos, inflamações do intestino, redução do fluxo salivar, aspereza da língua. Tudo isto transforma a vida do velho num mal estar constante, e renúncia a muitos e muitos momentos que antes eram prazerosos.

Hoje, andei pela internet lendo a respeito do envelhecer, e pude constatar que não sou tão louca com as minhas meditações sobre o envelhecer e os meus sentimentos de quase revolta - pois eu não aceito muito bem, este envelhecer sem volta - mas nas leituras percebi que outras pessoas, estas muito bem abalizadas e alicerçadas cientificamente, dizem sobre o envelhecer quase a mesma coisa que eu, só que de forma mais elegante, e com certeza convivem com a velhice alheia e não com a própria velhice, as próprias perdas, então a racionalização é menos agressiva que a minha, menos queixosa e mais realista.

Agora, a tarde, então pus-me a pensar que se a velhice é algo inexorável, e que se não morremos jovens, teremos que enfrentar a velhice, então deveríamos ser orientados, treinados, preparados desde a infância, desde as primeiras letras no conhecimento do que nos espera na velhice e assim, poderíamos nos preparar melhor para uma velhice vivida com mais sabedoria, mais prazer através de um alicerce financeiro e poupança de nossas energias físicas.

Mas também, não sei se plantar muito, principalmente em bens de capital ou bens imóveis é o caminho da tranquilidade na velhice, porque na velhice uma das nossas principais perdas é a capacidade de desempenho fisico, pois perdemos massa muscular e pela ação da redução dos hormonios a massa óssea se desgasta e os nervos enfraquecem, reduzindo mobilidade e força, e outro mal da velhice e o mais temído de todos, é a perda da capacidade cognitiva e da sanidade mental e é neste momento que quanto mais poder aquisitivo se tem, mais espoliado o velho é por parentes, filhos e amigos e até pela sociedade. Se o velho chega ao ponto de se tornar dependente física e mentalmente, esta situação de espoliação financeira é inevitável se ele tem bens e um potencial de recursos que faz todos quererem disputar a chance de cuidar daquele velho . Porém, por outro lado, o abandono em asilos é o caminho (sem volta) daquele velho que não tem o devido respaldo financeiro para pagar cuidadores, médicos e enfermeiros. Estes pobres velhos, pobres de bens materiais e miseráveis de afeto, o sofrimento nos asilos, onde são maltratados, espancados, mal alimentados e caminham para a morte a passos lentos, é o destino. Isto se pensado friamente, apavora.

No mundo atual, em que o velho esta vivendo cada vez mais e portanto, tendo a oportunidade enfrentar cada vez mais doenças crônicas e consuntivas da velhice e que o torna um dependente, o a sociedade esta a cada dia criando mais e mais formas de ganhar dinheiro sobre esta massa de gente - formando-se mais e mais especialistas tais como gerontólogos, geriatras, enfermeiras especializadas, cuidadores, fisioterapeutas, massagistas, empregadas domésticas especializadas (como babás de velhos, acompanhantes, e abrindo-se casas de saúde, asilos, recantos, e até agências de lazer, destinadas a entreter o velho, com o objetivo de tentar evitar a queda na depressão ou na completa e incapacidade física e emocional. - Até a industria da construção civil está entrando nesta, construindo casas com aparatos que garantem a estabilidade do velho, evitando quedas em banheiros, corredores etc. A indústria de móveis criam camas com guardas laterais para o velho não cair da cama a noite, cadeiras apropriadas para serem usadas nos banheiros para um banho confortável, e muito mais.

Se eu já não fosse velha iria neste momento optar por uma destas atividades, mas infelizmente, hoje eu sou a cliente potencial, ou a paciente de fato e não a profissional. Hoje, sou a semi-dependente e não aquela que pode oferecer de si para o outro.

Quando digo que sou semi-dependente, é porque ainda não cheguei ao ponto de precisar de cuidados pessoais dos outros. Eu por enquanto ainda consigo fazer eu mesma minha higiene pessoal, me alimentar, caminhar, apesar de sentir-me limitada, sem a mesma desenvoltura de alguns anos atrás, e ainda percebo que estou a cada dia me tornando mais e mais medrosa - tenho medo de pegar ônibus, medo de atravessar a rua, medo de descer escadas, e de tomar banho quando estou sozinha em casa - medo de cair no banheiro e não ter ninguém por perto para me ajudar.

Por enquanto ainda consigo ganhar pelo menos parte do meu sustento e gastar absurdamente com médicos, buscando uma esperança para as dores e o mal estar geral que sinto (mas estou percebendo por leituras na net serem estas dores e mal estar naturais da envelhecencia) e assim, então quem sabe, consciente que as dores são um tributo da velhice, eu deixe de estar implorando médicos uma ajuda para aquilo que não tem remédio e deixando principalmente de inventar doenças e tomar remédios desnecessários e inúteis, alguns até prejudiciais.

Mas, de fato ainda não foi colocado aqui a parte mais importante do tema que me propus trabalhar com ele hoje - Os aspectos econômicos do Envelhecer.

Pois é, também li na internet e apenas estou repassando aqui, mas eu já vinha pensando nisso há tempos - pois fui por 8 anos funcionária da previdência social e trabalhei 4 anos para a Sul America - pois é... pois é... a massa de velhos aumenta a cada ano, pesando consideravelmente nos cofres públicos da previdência social - tanto com aposentadorias quanto com necessidades de recursos médicos e a cada ano, a juventude tem um lastro menor - ou seja, menos jovens ativos contribuindo e mais velhos sacando, o que levará com certeza a um desfalque no sistema, pois de fato precisa-se de pelo menos 3 contribuintes de salário mínimo para pagar a aposentadoria de um velho, e precisa-se de pelo menos 5 contribuintes para pagar a aposentadoria de um velho e seus custos sociais de médicos e remédios. E, estamos caminhando para uma situação crítica pois, os jovens estão sendo cada vez uma massa menor além de estarem devido aos aspectos econômicos e de formação entrando para o mercado de trabalho mais tarde, tornando-se contribuintes tardios. Assim temos uma pirâmide invertida - MUITOS VELHOS GASTANDO e poucos jovens contribuindo. E se o poder público não tem como arcar com os custos desta massa de velhos, a família é chamada para assumir suas responsabilidades, o que muitas vezes acaba sendo um peso e um transtorno para alguns filhos, cujos rendimentos também não são aqueles necessários para tantas responsabilidades.

Será que existe uma solução para o problema? Será que poupar desde os primeiros anos de vida, como propõem alguns bancos resolve o problema? Quanta gente já poupou no passado e de repente viu a empresa que recolheu suas poupanças falir, como as empresas de capitalização onde muita gente colocou o dinheiro da juventude e estas faliram muito antes que aqueles jovens se tornassem velhos?

A previdência social - foi criada de uma forma restrita para contemplar somente aquele que tivesse de fato contribuído - mas ao longo dos anos foi abrindo o leque e contemplando rurais e até domésticas, costureiras, pessoas estas que nunca contribuíram e muitos que nunca nem trabalharam - e a previdência hoje tem a seu cargo um contingente enorme de nao contribuintes de fato, para não entrar em outras situações que prefiro não falar aqui, pois meu blog jamais estará a serviço de críticas políticas ou pessoais. Quero aqui discutir e colocar problemas gerais que as pessoas enfrentam, independentemente, do poder público e de suas políticas e proteção - os comentários vão surgindo mas sem nenhuma intenção de crítica, são apenas observações. Portanto, a situação da previdência é preocupante para o futuro destes jovens que hoje estão contribuindo na esperança de uma velhice mais tranquila.
Hoje, o assunto aposentadoria já é motivo de preocupação das pessoas físicas, dos economistas e dos administradores do poder público e mesmo das empresas, porque se você tem um determinado nível de vida, com um ganho salarial acima de 20 salários mínimos, aos se aposentar receberá no MÁXIMO 10 salários mínimos. Ou seja, de um soco seu poder aquisitivo cai 50%.

Vou parar por aqui, quem sabe amanhã eu continue este assunto, ou quem sabe, parta para outro menos pesado, que possa trazer mais alegria e luz a este blog.

Mas falar de problemas é uma forma de buscar soluções. Seria muito bom meditar sobre isto. É o que vou fazer. Pensar nos meus problemas buscando soluções.

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