23 de fev. de 2011

Velhos e Doentes Crônicos e o meio familiar

Estes dias fiquei um certo tanto sem condições de escrever. Deprimida, revoltada, preocupada, molestada, enjoada, assim com vontade de não fazer nada, ou tomar atitudes para resolver o tudo de uma só cajazada.

Quando a gente envelhece e as pernas já não ajudam muito, fica-se assim, a cabeça pensa, e a gente acredita ser capaz, mas de repente percebe-se que o corpo não atende os comandos e bate então o sentimento de incapacidade. Acho que foi isto que o Ronaldo Fenômeno sentiu, a incapacidade de atender os apelos da massa corintiana e brasileira, que exigia dele a mesma performance dos 18 anos e ele, embora, sabendo todos os passos e atos que tinha que realizar para concretizar os feitos exigidos dele, via que seu corpo não atendia aos comandos.

Assim é o velho - a cabeça planeja com base nos conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, e na experiência bem sucedida do passado, mas, o corpo não tem forças para atender aos comandos.

Quando se é jovem, podemos num só dia, jogar bola, nadar na piscina, montar a cavalo, ou andar de bicicleta, rolar na grama, bater peteca, e chega a noite ainda temos disposição para ir para o clube e dançar até a madrugada. Haja saúde e disposição. Haja capacidade de viver intensamente o hoje o agora, e não se deve mesmo deixar para o amanhã.

Mesmo que se continue praticando exercícios e mantendo-se em atividade, os anos vão trazendo as incapacidades através da diminuição dos hormônios e da perda da massa muscular, também vamos perdendo mobilidade, força e coragem. Entretanto, muitas vezes não nos damos conta disso de imediato. Percebemos somente quando os sintomas de doenças crônicas como as diabetes, cardiopatias, e outras começam a despontar, ai damos uma parada, e podemos sentir os resultados.

Muitas vezes, não são de fato as doenças que reduzem nossas capacidades, mas o simples processo de envelhecer - de não renovar células e perder a tonus muscular pela redução da oxigenação celular.

MAS COMO SEMPRE, ESTOU DIVAGANDO - não é isto que quero falar - quero falar aqui de como as doenças crônicas interferem na na vida e no relacionamento familiar do velho - ou mesmo do jovem (que tenha sido atingido por doenças crônicas e incapacitantes)

Outro dia, eu estava no A. C. Camargo (Hospital do Câncer) esperando a minha vez de consulta, e comecei a conversar com uma senhora do meu lado. Então ela me contou que teve câncer de um seio, e depois do outro seio, e um problema das glândulas salivares em consequência das quimioterapias. Olhando para ela, eu diria ser uma pessoa hígida, em perfeito estado de saude, cabelo pintadinho, corada, hidratada, e conversadeira. Mas ao longo da conversa chegamos ao que eu quero dizer aqui - eu disse - MAS, COM TODOS ESTES PROBLEMAS - 8 ANOS DE TRATAMENTO, EMBORA VOCE ESTEJA COM BOA APARÊNCIA, ME ADMIRA TER VINDO SOZINHA PARA CONSULTA - então ela me respondeu assim:

(- AMIGA, A VIDA É ASSIM - quando nossos familiares tomam conhecimentos que temos uma doença grave como câncer, todos correm e nos cercam de carinho e atenção - mas, se esta doença e suas consequências vão se arrastando por longo tempo e anos - quimioterapia, internações, re-operações, recaidas, fisioterapia, etc.. a família começa a se sentir exausta, parece que o amor vai diminuindo - e a gente passa a ser um PESO NEGATIVO - e não mais uma pessoa DESEJADA, COLABORATIVA, PRESTATIVA e para com a qual todos querem interagir, porque a doença nos torna ranzinzas, chatos, impacientes, chorões às vezes até agressivos e ninguém gosta disso. Então, o que a gente tem que fazer é procurar não mostrar aos familiares e amigos a dor que se sente, e buscar ser o mais independente possível dentro das nossas limitações.)

Este relato é uma tentativa de reproduzir nossa conversa, talvez nem tudo tenha sido dito assim, tão esplicadinho - mas foi isto que compreendi das palavras cheias de conformação daquela senhora, até bonita, que estava ao meu lado.

Então é isto, a doença crônica é INCAPACITANTE físico, e um estopim emocional que leva o velho a se ISOLAR e se recolher em sua própria SOLIDÃO. A solidão do velho é consequÊncia da intolerância dos mais jovens e da sociedade a fragilidade dele, à dependência dele e a rabugice que o velho passa a cultivar devido a vários fatores como dor, mal estar, deficiências OU REDUÇÃO DOS SENTIDOS DE OLFATO, VISÃO, TATO, E ATÉ DO PALADAR, para não falar em outras consequências do envelhecer e ser portador de doenças crônicas.

Para o velho doente crônico nada tem o prazer de antes - tudo fica difícil, não se consegue mais pular a cerca, nem rolar na grama, não se consegue mais mastigar aquele churrasco cheiroso, apetitoso, escorrendo gordura pelos cantos da boca. Não se consegue mais, dormir com o mesmo conforto de outrora.

Gritos, barulho, música alta, tudo isto nos fere os ouvidos, sendo que na juventude tudo que mais gostava era de rádio alto, tambores batendo, e gritos muitos gritos no meio da turma. Na velhice estes sons estonteantes da juventude provocam labirintites e outros ites.



DEPOIS ESCREVO MAIS...

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