24 de fev. de 2011

Buscando os serviços de saúde pública - análise paralela

Existem na vida duas situações distintas e das quais fazemos parte e depende muito de qual lado estamos e dependendo do lado e a forma que sentimos e percebemos a realidade destas situações.

Por exemplo: (quem nunca precisou pegar um ônibus lotado, e viajar em São Paulo, por duas ou três horas, em pé, espremido, se agarrando nos bancos, no suporte de cima, e quando se é baixinho, nem no suporte pode se apoiar, e além do calor, do aperto, das pessoas mal cheirosas depois de um longo dia de trabalho, temos que ser equilibristas para não cair e não arrastar junto todos que estão próximos, a cada vez que o motorista precisa freiar bruscamente.) Você está dentro do carro, com ar condicionado, cheio de espaços, ouvindo música no rádio, ou até falando no celular, mas irritadissimo com o congestionamento, e aquele ônibus ao seu lado, ou na sua frente significa mais um estorvo, e você não tem consciência de tanta gente lá dentro daquele ônibus vivendo o mesmo que você, uma longa espera, mas sem nenhum conforto, que você tem ai, dentro do seu carro.

A mesma situação acontece, com pessoas cheias de dinheiro, que procuram o atendimento em hospitais, onde particulares, conveniados e pacientes do SUS - se misturam na entrada - lógico que cada um seguindo corredores diferentes - os particulares para as salas de espera com ar condicionado, tv colorida, barzinho para o café, água gelada, etc.. etc.. hora marcada, e ai se tem um atraso.
Já os conveniados, também seguem quase que pelo mesmo caminho e para a mesma sala, mas a espera é mais longa, pelo menos na espera para se chegar até ali. Pois o particular, quando busca marcar uma consulta consegue para a mesma semana ou mesmo dia, mesmo que seu caso não seja urgente, mas o conveniado de planos de saúde no momento, dependendo do hospital tem que esperar semanas ou meses para chegar a sua vez. Mas, acaba sendo atendido pela mesma equipe de particulares e na mesma sala.. pelo menos é assim que funciona a maioria dos hospitais que tem misturados - convenios, particulares e sus.

Já os pacientes do sus, muitas vezes amarga uma longa espera de meses e meses para conseguir uma vaga, e depois chega de madrugada e fica ao relento na porta destes hospitais até que sejam convidados a entrar, e enfrentam bancos duros, desconfortáveis, numa sala onde se aglomeram centenas de pessoas. Ele está com sua consulta marcada, mas chega e pega uma senha, e fica lá esperando sua vez.. se chegar um pouco mais tarde pega uma senha tão alta que passa ali, o dia todo, com fome com sede sentado naqueles bancos esperando ser chamado. E depois de chamado, o médico mal o olha, e pede UMA IMENSIDÃO DE EXAMES - e lá vai o PACIENTE DO SUS pegar outra fila enorme para marcar os exames - e marcar o retorno - ai - marca o exame para daqui há 15 - 20 dias e depois o retorno para daqui um, dois meses depois.

Então o paciente do Sus, que tem uma doença, espera meses para ser atendido, depois dias e meses para fazer os exames e depois meses para retornar ao médico com os exames e saber de sua avaliação.

Consequencia, neste meio tempo ou seu estado se agravou, ou os exames que fez devido ao espaço de tempo já nao são o espelho correto do que o paciente tem, pois um hemograma por examplo feito hoje tem um valor, o de dois dias depois pode ter outro resultado completamente diferente se o paciente teve febre, diarréia, desidratação, ou se outra doença mais grave. Os exames de laboratório não são estáticos e todo médico sabe disso, mas a medicina vem trabalhando neste ritmo de desperdício do dinheiro público e do dinheiro dos convênios pedindo exames que o médico somente vai olhar daqui dias ou meses.

Mas o que estou querendo falar mesmo é que dependendo do lado que estamos não nos apercebemos da dor e do sofrimento do nosso semelhante que está do outro lado, talvez, com doença semelhante, mas recebendo tratamentos não iguais por parte de hospitais e médicos.

Todos nós morremos - o rico, o pobre, o bonito, o feio, mas com algumas diferenças. O rico morre com ar condicionado, paparicado, anestesiado para alívio de suas dores, e o pobre morre assado no calor do sol escaldante, esperando sua vez na porta dos hospitais.

Não considerem isto uma crítica, a vida é assim mesmo. O que eu estou querendo chamar atenção é que - apesar da evolução da humanidade, o poder econômico ainda está presente em todos os lugares - no transporte público e privado - nos serviços médicos públicos e privados.

A gente não quer dizer que tem diferenças, mas infelizmente, as diferenças existem.

Hoje, existem até muitas facilidades e propostas de ajuda do parte do governo, mas, existe uma burocracia que lentifica tudo - lentifica porque os funcionários são mal treinados, muitas vezes mal orientados e muitos trabalham com pouca vontade, e se sentindo confortáveis esquecem que aquela fila que depende dele para andar, poderia ser menor e com um pouco de esforço de todos - a dor seria diminuída, e talvez até eliminada.
Não estou criticando ninguém - são as formas administrativas que lentificam - mas se cada um na piramide, fizesse a sua parte, com certeza a burocracia seria vencida e os processos administrativos andariam mais rápido.

Estou comentado tudo isto neste blog, porque eu estou passando por isto - para conseguir um remédio que o governo fornece para Cirrose Biliar Primária, estou tendo que enfrentar filas, para CARTÃOZINHO DO SUS, LAUDO MÉDICO, COPIAS DE DOCUMENTOS, DE EXAMES, PROVA DE RESIDÊNCIA etc etc... vai aqui, não é ali, vai lá, não aqui não - poxa esta sua rua não pertence a este posto de atendimento, e assim por diante.

NOSSA, EU QUERIA FALAR MAIS, ENTRETANTO NÃO CONSIGO - não consigo colocar no papel o que eu sinto, vendo que a estratificação social continua - hoje não temos mais castas, dizem que não temos preconceitos raciais - que todos são iguais - mas se paramos e olhamos atentamente para os lados, como as coisas acontecem, vemos que ainda existem classes sociais - classe rica, classe média, média baixa, classe pobre e classe miserável e que principalmente no atendimento médico e transporte - estas diferenças de classe são gritantes, isto para não falar nos sistemas habitacionais.

Outro dia.. escrevo mais.

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