15 de fev. de 2011

Envelhecer

Existe hoje uma espécie de louvor ao envelhecer - chamam de 3a. idade, a melhor idade, idade da liberdade, idade de ser feliz (sem as responsabilidades da juventude de buscar crescimento ou ser o arrimo de uma família).

Para muitos envelhecer significa ficar numa boa - sem responsabilidades, sem preocupações, tranquilidade, passear, visitar amigos, parentes, fazer um cruzeiro, e tudo maravilhas.

Mas, de fato, esta não é a realidade do velho. A realidade do velho muitas vezes significa - finanças curtas, uma aposentadoria que não cobre nem 10% de suas necessidades financeiras, uma queda vertiginosa na qualidade de vida, de conforto, pois as aposentadorias de fato reduzem o fluxo financeiro, e o velho, geralmente, nos primeiros anos de uma aposentadoria consegue ganhar por fora para incrementar esta renda, mas chega uma hora em que não dá mais para fazer freellas, como dizem os jovens, ou nem para continuar numa atividade que exige muito do físico e da mente. Então toda a situação financeira desanda. E assim, não teremos a opção de cruzeiros internacionais para sufocar a solidão, a ausência de filhos, a ausência de amigos. Porque é assim mesmo, ninguém gosta de gente velha, feia e pobre.

Poucos são os velhos que souberam planejar para a velhice e hoje estão numa boa financeiramente. Mas, mesmo com as finanças em dia, cobrindo despesas, o velho enfrenta problemas - dores - incapacidades físicas, incapacidades mentais, ansiedades, tristezas, saudades.

Quanto mais lúcido o velho consegue estar, mais consciência tem de suas limitações e das rejeições do meio ambiente e social e mais (ele, o velho sofre). Sofre por saber quais são suas limitações, e principalmente, que não as consegue eliminar, e muitas destas deficiências terão tendência a um aumento progressivo e irreversível, tais como a agilidade física, o alcance da visão, a capacidade de prover seus próprios cuidados de higiene e alimentação.

Antigamente, o velho era respeitado como sendo uma fonte de sabedorias e experiências, então todos os jovens buscavam assimilar do velho o que ele sabia para alavancar suas próprias vidas. Na dúvida, no nosso velho avó, a nossa mãe, ou pai, ou aquele tio mais instruído era para onde corríamos para sanar nossas dúvidas ou acumular mais saber ao nosso próprio saber.

Mas hoje, com a evolução acelerada da tecnologia, o velho não consegue acompanhar os jovens. Os jovens tem hoje muito pouco alicerce de conhecimentos sólidos, mas uma tecnologia surpreendente que acaba suprindo a ignorância e o saber mais solidificado. Hoje, não se precisa saber profundamente um assunto para ter conhecimentos, a informática, a internet, informa.

Os equipamentos ficam a cada dia mais complicados, outros mais simplificados e o excesso de informações e mudanças incapacita o velho no acompanhamento e sua própria atualização. E o velho fica prá trás, sendo olhado por filhos, netos e amigos como um coitado ignorante. Toda a colaboração que este velho deu no incremento das bases desta própria tecnologia nada significa. Ninguem se lembra que para se criar uma ferramenta sofisticada, teve-se que partir do empírico, dos conhecimentos de base que foram adquiridos exatamente com estes velhos que hoje se sentem perdidos.

Então, envelhecer é a dor da perda. Perda da juventude, da beleza, da força física, da capacidade mental; perda do poder aquisitivo, da qualidade de vida, da esperança; perda do amor, da paixão, do respeito, da consideração, da admiração, da esperança.

Ser velho é olhar para um futuro cujo horizonte termina ali. Ali onde não sabemos definir exatamente a distância ou o tempo. Mas um horizonte que nos barra o caminhar, nos impedir de ver mais longe, nos impede de sonhar.

Ser velho é não ter mais, quase nada a oferecer a esta juventude cheia de tecnologia. Nossos conhecimentos são sólidos, mas não valorizados pela sociedade atual.

Nossa experiência, nossos erros e acertos na vida, seriam lições que a juventude poderia assimilar para não cometer os mesmos erros e conseguir viver com mais felicidade. Entretanto, ninguém quer saber de nossas experiências, acabamos sendo chatos, inoportunos e rabugentos.

Estou com 66 anos, e não gosto de ser velha. Não gosto de minha imagem no espelho, nem de minha pele flácida, pálida e sem túrgidez. Sinto-me só, e não consigo achar um caminho que solucione esta situação e escrever é uma forma que encontrei de registrar meus sentimentos.

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