29 de mar. de 2011

Nascer, Viver, Morrer

Desde há alguns dias venho pensando em escrever sobre este assunto - viver e morrer. É um assunto tétrico, chato, difícil de ser enfrentado e por isto fuideixando para depois. Mas, hoje, morreu o José de Alencar, ex-vice-presidente da República. Homem forte, lutador e vencedor. Um vencedor, que saiu das Minas Gerais para ganhar o mundo e enriquecer. Participou da vida industrial, comercial e política deste país, foi um vencedor e batalhou, lutou contra a morte, e viveu enquanto pode, com as forças de uma personalidade tenaz.

Entretanto, a morte venceu. Venceu porque nada pode contra ela. Todos nós nascemos, vivemos e morremos. Todas as coisas têm início e final - nada é eterno. Nada é para sempre. Tudo acaba.

É horrível a gente imaginar a própria morte. Ninguém quer. Ninguém aceita, mas ao mesmo tempo é impossível se aceitar viver para sempre, a menos que se inventasse uma maneira de viver e ser eternamente jovem, saudável, bonito, inteligente e capaz. Mas viver depois de uma certa idade, deixa de ser um prazer para ser um arrastar em passos lentos a espera de um fim.

Dia desses estando num ônibus olhei para fora e fiquei pensando comigo mesma, que todas aquelas pessoas que caminhavam apressadas pela Av. Paulista, todas sem excessão, um dia morreriam. Aquela moça ligeira sobre seus saltos altos, aquele rapaz apressado carregando sua maleta, o velho trôpego andando devagar, a mulher de barriga enorme carregando um novo rebento, aquele homem de bermudas, vendendo suco na esquina, todos, sem excessão, um dia morreriam. Ninguém vai ficar, é uma loteria certa - favas contadas, todos, sem excessão terão um final.

Mas, de fato, ninguém quer morrer. Não queremos porque ninguém sabe o que existe depois da morte - se o silêncio eterno, um sono sem sonhos e do qual não se acorda nunca, ou se é que temos um espírito, uma alma, será que depois da morte ficamos presenciando o decompor-se de nosso corpo, o apodrecer de nossas carnes? Ou será que como dizem os adeptos do espiritismo, nos primeiros tempos após a morte ficamos anestesiados para evitar este sofrimento atróz para a nossa alma?

E viver eternamente, vale a pena? Você quer? Eu quero? Não, não queremos porque chega um momento que não temos mais objetivos - nem destino, nem rumo certo.

Eu por exemplo, me sinto abandonada por todos. Meus filhos dizem que eu que me isolo, mas não é verdade, eu apenas não tenho mais fôlego para ir e vir daqui para lí e participar da vida deles. E nem existe na vida deles espaço pra mim. Tudo que eu digo é bobagem, tudo que eu sugiro é tolice, tudo que eu aconselho é mau agouro, tudo é contra mim. Então fico em casa. Meus filhos querem que eu vá até eles, mas eles não economizam o tempo para ir ao encontro das sogras, dos amigos, etc. Mas o caminho da minha casa é longo e difícil, massante, então nunca se encontra tempo para vir me ver. O meu papo deixou de ser esclarecedor, para ser um papo desagradável.

Então, vale a pena viver?

Viver era bom, quando eu era jovem, bonita, inteligente. Chegava nos lugares e monopolizava as pessoas com minha conversa convincente. Eu era boa de papo, inteligente, lia muito, conhecia muito para a minha época e os locais onde vivia, pois em terra de cego, quem tem um olho é rei. Eu não era de fato tão inteligente, mas para os locais onde eu vivia a minha cultura barata de livros e revistas era o suficiente.

É interessante como a gente envelhece e emburece... é como se fôssemos incapazes de aprender algo mais, e o aprendido vai quem sabe sendo esquecido, ou se tornando inútil.

O prazer da vida está vinculado principalmente no conviver com as pessoas - sem conviver a vida não tem prazer e nem razão de ser. Mas conviver significa participar - e a vida social é feita de algumas atitudes ou momentos - os seres humanos elegem para se encontrar nos bares para comer, beber, fumar, namorar, amar. As pessoas escolhem para se encontrar em casa para almoçar, jantar, cear. Os casais marcam para se encontrarem para amar, fazer sexo, comer, beber e repetir tudo de novo. A conversa somente tem vez se os interesses são focados nos mesmos pontos, e a conversa precisa estar cercada de prazer, seja o prazer de comer ou de fazer sexo.

E o velho neste contexto onde entra? Em contexto algum, pois o velho não tem mais prazer de comer, porque tudo que é bom para comer faz mal - engorda, enfarta, mata, além de que o velho não tem dentes para mastigar. E ai? Vamos nos encontrar no bar, para comer e beber? O velho nao pode, então foge do encontro do bar.

O velho não faz mais sexo, e ai, vai se encontrar para dormir abraçado, fazer carinhos? Quem quer? Ninguém quer, nem um velho suporta outro velho, quanto mais um jovem suportar um velho.

Então, vejamos, a vida tem início, meio e fim - como um texto que tem uma introdução, uma narração de conteudo e um final (conclusão). O velho está na conclusão de uma trajetória, de uma estória, a sua HISTÓRIA. Se sua história foi bem escrita, talvez morra no conforto de sentir-se amado e reverenciado como José de Alencar, mas se sua estória foi mal escrita, se morre no abandono, no desprezo e no desdém da sociedade e não sabemos depois da morte, como é recebido este corpo, se pelos vermes da terra ou pelos anjos do céu.

Texto Tétrico. Inté.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...